É uma história de sucesso desde 2012, vencendo obstáculos uns atrás dos outros, enquanto assiste vitoriosamente ao crescimento do mobile e da fotografia. Ultrapassou todas as visões mais optimistas do mercado: no seu início houve quem, de entre os mais reconhecidos analistas financeiros, se questionasse se alguma vez as acções ultrapassariam os 7,5 dólares. No final de 2017 tinha 2,2 mil milhões de utilizadores e viu as acções subirem 57% durante o ano, atingindo o valor de 176 dólares.

Em Fevereiro de 2018, a sua capitalização bolsista ultrapassou os 560 mil milhões de dólares, tornando-se na 5.ª empresa mais valiosa a nível mundial. Segundo a Goldman Sachs, por esta altura o Facebook era a empresa mais representada em fundos de capitalização, só ultrapassada pela Amazon. Ainda em Fevereiro, 90% dos analistas de Wallstreet recomendavam a “compra” das suas acções que, entretanto, atingiram os 195$. A única empresa a recomendar a venda foi a AIERA (Artificial Intelligence Research Analyst), que não é mais nem menos do que um robot que recorre à inteligência artificial para recomendar os investidores.

Tudo isto enquanto corria a ideia de que Mark Zuckerberg poderia vir a concorrer para presidente dos EUA, em 2020.

Depois das notícias a envolver o Facebook na influência de voto nas eleições norte-americanas, através da Cambridge Analytica (empresa que opera em data mining na área política) e de notícias de pessoas a ser investigadas na Europa e EUA, tudo mudou!

Desde 2 de Fevereiro, o Facebook perdeu 100 mil milhões de dólares em capitalização bolsista e as suas acções valiam 153 dólares no final de Março, isto é, menos 22%. Os investidores ficaram receosos pelo efeito que este caso possa causar noutros players do mundo digital, como o FANG (Facebook, Amazon, Netflix e Google).

Hoje, Zuckerberg parece liderar uma empresa fora de controlo e em negação, conforme já se verificou na sua primeira aparição no Congresso norte-americano.

Mas concentremo-nos no essencial. A estratégia do Facebook assenta em 3 pilares:

  1. Fixar utilizadores junto ao ecrã
  2. Coleccionar data sobre o seu comportamento
  3. Conhecer as empresas dispostas a pagar fortunas para atingir os seus públicos-alvo (o Facebook, facturou em 2017, por via da publicidade, 40 mil milhões de dólares)

E, em boa verdade, nunca ninguém deu muita importância à forma como os nossos dados são utilizados.

Depois deste episódio, o Facebook não vai ser impedido de operar nem ser banido, mas nada é tão destrutivo como a falta de confiança, que já gerou impacto nos seus utilizadores, que têm vindo a encerrar contas. Desde o início da crise, ou utilizadores passam menos 50 milhões de horas por dia junto da plataforma (15% de perda).

Hoje, o Facebook vale 493 mil milhões de dólares, e “apenas” tem 14 mil milhões em imobilizado. O seu valor resulta dos intangíveis, nomeadamente o goodwill da marca, que sofreu um abalo significativo. Até os mais próximos, como o fundador do WhatsApp (detido pelo Facebook desde 2014), encorajam as pessoas a accionar #deletefacebook, tornando tudo mais difícil.

Por isso, a prioridade é recuperar a confiança de utilizadores e investidores. É para esse fim que, doravante, deveriam caminhar os 11,5 milhões de dólares que o Facebook gastou em acções de lobbying junto de Washington, em 2017.

Começar por pedir desculpa e prometer atalhar caminho para reverter a situação é um bom princípio. Desde a audiência de Zuckerberg ao Congresso as acções já valorizaram 5,7%, equivalente a uma subida de 3,2 mil milhões de dólares.

Rolar montanha abaixo é num ápice. Retomar o ponto de partida, é penoso, leva tempo, custa muito e é incerto. Que o digam a Volkswagen, Nokia, BP, Ryanair e tantos outros que, lá ou cá, já viveram esta realidade.

Em matéria de falta de confiança, não há golpes de asa nem demonstração de resultados que aguente!

Published On: Abril 16, 2018 /