Estamos a assistir a uma mudança radical na forma como se desenvolvem os modelos de negócio e a economia em geral, por força da importância crescente que nos é trazida pelo mundo digital. Até aqui nada de novo!

Mas a dimensão e a relevância dessa mudança podem não ser totalmente percepcionadas. E vale a pena termos alguns números de referência para que se compreenda melhor que se trata, efetivamente, de uma revolução sem igual.

Apple, Amazon, Facebook e Google são os protagonistas máximos desta viragem. Afetam diariamente a vida de cerca de 4,5 mil milhões de pessoas, num total de 7,6 mil milhões, e são responsáveis, cumulativamente, pelo emprego de cerca de 800.000 colaboradores, dos quais 250.000 são altamente qualificados e principescamente pagos. Geram uma riqueza acumulada de 2,5 biliões de dólares.

Por exemplo, a capitalização bolsista da Amazon (831.000 milhões de dólares) é maior que o somatório daquela que é gerada pela Walmart, Kroger, Tesco, Ikea, Carrefour, Macy’s, Nordstrom, Tiffany e The Gap.

Pelo seu lado, a Apple tem uma capitalização bolsista (909.000 milhões de dólares) 4,5 vezes superior ao PIB de Portugal, superior ao PIB da Turquia, um pouco abaixo do da Indonésia (16.º país no mundo com PIB mais alto).

Já o Facebook fomenta relações diárias com mais de 1,2 mil milhões de pessoas, com uma duração média diária de visita superior a 50 minutos.

E o que dizer da Google que teve um volume de negócios próximo dos 110.000 milhões de dólares em 2017, tendo crescido 22% face ao ano anterior e que serve 2 mil milhões de pessoas, 24 horas por dia, respondendo a qualquer pesquisa em 0,0000005 segundos?

Em suma, os 4 ases, em acumulado de capitalização bolsista, superam o PIB do Reino Unido e, em 2019, chegarão ao PIB da Alemanha.

E não se trata apenas de dimensão, mas sobretudo de riqueza gerada: a capitalização bolsista, por colaborador, na General Motors é de 0,3 milhões de dólares enquanto que no Facebook é de 22,5 milhões de dólares. Ou do grau de envolvimento com os clientes: de todas as pesquisas de produtos online, 55% são realizadas através da Amazon, 28% pela Google, 16% de outros retalhistas e apenas 1% do site da própria marca. E, neste domínio, o futuro da Inteligência Artificial prepara-se ser operado pelo Siri (Apple) ou Alexa (Amazon).

E quanto à competitividade? Quem perde para a Amazon no mercado norte-americano e, consequentemente, mundial? A resposta é simples. Todos!

Tendo criado a tempestade perfeita no mercado do retalho, a Amazon vai adquirindo insígnias, entrando em novas áreas de negócio, como farmácia ou pronto a vestir, compra grandes cadeias de supermercados, como a Whole Foods, e o resultado é o seguinte: entre 2006 e 2018 o preço das ações da Amazon subiram 3600%. Dito de outra maneira, se tivesse investido 1.000€ na Amazon em 2008, hoje esse investimento valeria mais de 20.000€. Em contrapartida todos os grandes retalhistas viram cair a cotação das suas ações no mesmo período: Sears (-95%), JCP (-83%), Best Buy (-49%), Macy’s (-46%), etc…. Como curiosidade, refira-se que no mercado norte-americano o número de subscritores do Amazon Prime (54%) equivale ao número de votantes nas últimas eleições.

E quanto à competitividade da Apple? No que se refere ao mercado de smartphones, a Samsung lidera as vendas com 23,4% de quota de mercado, seguida da Apple com 15,6%, totalizando as restantes marcas 61%. Mas se olharmos para a repartição de lucros gerados pelas mesmas marcas, o resultado é bastante esclarecedor: a Apple representa 79% do total do mercado, seguida da Samsung com 14,6%. Todas as outras marcas juntas representam 6,4% do lucro gerado por todo o mercado de smartphones. Ninguém sabe gerir tão bem o goodwill da marca e respetivo pricing, quanto a Apple.

Google e Facebook não ficam para trás: de 2016 até 2018, o investimento publicitário no Google aumentou 60%, no Facebook 43%, enquanto que todo o restante mercado caiu 3%.

Imaginemos o clássico funil de compra, vulgarmente conhecido como modelo AIDA (R) (Atenção, Interesse, Desejo, Aquisição e Recompra). Fazendo o paralelo com a performance destes 4 ases, podemos dizer que o Facebook desperta a Atenção, o Google gera o Interesse e o Desejo, a Amazon é o grande motor das Compras e a Apple o maior exemplo de fidelização e Recompra (92% da comunidade de clientes é fiel à marca).

Não parece que o cenário se vá alterar no curto prazo e é muito provável que se acentue este domínio. São marcas e empresários, entre muitos outros, que viram aquilo que mais ninguém viu, quando tinham tudo na mão para serem os protagonistas do futuro. É o Marketing na sua melhor faceta!

Livro Recomendado: The Four – Scott Galloway

Published On: Julho 9, 2018 /