Vivemos momentos que evidenciam as grandes fragilidades a que cada um de nós e as empresas estão sujeitos. Este novo contexto viral que não constava das previsões de ninguém, do qual não se conhece verdadeiramente a causa, o seu impacto na propagação final, o tempo que perdura e, sobretudo, a solução para o eliminar, fez da incerteza a palavra de ordem dos dias de hoje.

Essa mesma incerteza já constava das preocupações de empresários e gestores no dia-a-dia, fruto das alterações constantes e substantivas do mundo digital, com particular destaque para o impacto que virá a ser provocado pelo 5G e pela evolução da inteligência artificial. Apesar disso, essa insegurança está a ser colmatada com aprendizagem, evolução tecnológica, implementação de boas práticas, orientação para o cliente, etc… Algumas empresas e modelos de negócio ficarão definitivamente para trás, outros surgirão com grande fulgor, enquanto outros serão êxitos por algum tempo até deixarem de o ser.

E até aqui nada de novo: tudo isto é fruto de um novo paradigma de competitividade que vivemos, cada vez mais complexo e dinâmico.

Olhar para um plano estratégico de qualquer empresa, projectando previsões em 2020, e tentar encontrar pontos de tangência com a realidade, é como encontrar uma agulha num palheiro.

Contudo, este fenómeno resultante do Coronavírus, transporta toda a gestão empresarial e pessoal para uma nova realidade: é que não há plano de negócios ou orçamento familiar que tenha previsto e antecipado uma situação desta natureza. Olhar para um plano estratégico de qualquer empresa, projectando previsões em 2020, e tentar encontrar pontos de tangência com a realidade, é como encontrar uma agulha num palheiro.

Seria exaustivo identificar sectores afectados neste contexto, mas todo o cluster relacionado com o turismo estará a viver momentos dramáticos: companhias aéreas, operadores, agências de viagens, hotéis, rent-a-car, restauração e todos aqueles que são seus fornecedores.

Muito sectores industriais não têm matéria-prima, logo não produzem e não vendem. Muito serviços não funcionam (feiras, congressos, escolas, ginásios, etc…) porque a proximidade é um factor de risco. A banca já antecipa uma previsão do crescimento do crédito malparado para muitas áreas de negócio. Do lado inverso, o comércio online pode ganhar um ainda maior protagonismo. E a comunicação social acentuará a sua vertente digital: na partilha da noticia, na imagem do momento, na reacção em directo, nos comentários infindáveis sobre qualquer assunto.

As empresas que estiverem mais próximas do mercado, projectarem cenários com maior realismo e assentarem a sua visão na entrega de valor aos clientes serão aquelas que sairão sobreviventes destes momentos de intempérie.

A quantidade de empresas que desaparecerão será assinalável, sobretudo nos casos onde o peso dos custos fixos assume um grande protagonismo face às vendas ou que dependam de grande volume de fundo de maneio e liquidez para assumir compromissos de curto prazo.

A economia não sabe medir o pânico do hiperconsumismo imediato ou da depressão decorrente do prolongar desta nova realidade. Os conceitos de longo, médio e curto prazo deixam de ter significado. O estudo da elasticidade da procura ficará para momentos mais serenos e previsíveis. Os comentadores de economia, tal como o excel, poderão prever uma coisa e o seu contrário, acertando sempre numa parte da equação. No fim, todos dirão quais tinham sido os prognósticos.

Muitos quadros de empresas queixam-se do excessivo tempo que se leva a planear e dos objectivos que se projectam, como se a realidade fosse superada por um desejo de concretização maior.  Todavia, a ausência de planos de contingência económica face a realidades como esta, é o cenário mais comum.

Basta ver que no início deste ano se previa que o PIB da União Europeia crescesse 1,5% e já se antecipa uma recessão de 1%. Para que se tenha uma noção deste impacto, o desvio de 2,5% representa um impacto na produção de riqueza europeia de cerca de menos 500.000 milhões de euros, que é como quem diz 2,5 vezes o PIB de Portugal.

Que fazer? Este é o tempo de repensar os modelos de negócio e descortinar como se podem manter clientes fiéis, enquanto a tempestade decorrer. As empresas que estiverem mais próximas do mercado, projectarem cenários com maior realismo e assentarem a sua visão na entrega de valor aos clientes serão aquelas que sairão sobreviventes destes momentos de intempérie.

Ninguém está preparado! Mas uns estão menos que outros!

 

in www.executiva.pt/blogues/incerteza-tempos-corona

Published On: Março 16, 2020 /