É comum e saudável ir ao encontro da liderança em qualquer mercado, seja num sector de actividade ou num nicho.
São inúmeros os benefícios que rodeiam o líder (na capacidade em ajustar preços, na inovação, no alargamento da cobertura de mercado, no investimento em esforço de marketing, etc…) que, muitas vezes, superam as desvantagens (menor atenção ao cliente, demasiada preocupação com as sinergias, para além de passar a ser o alvo preferencial dos challengers). No entanto, face ao histórico recente dos processos de fusão e aquisição de empresas, deve colocar-se uma questão central: até que ponto se deve forçar uma liderança e quais os efeitos que essa operação produz nos domínios financeiro, económico e de mercado?
Vejamos o recente caso entre a Volkswagen e a Porsche.
Momentos antes da eclosão da crise económica, a Porsche comprou 51% das acções da Volkswagen, destinada a assumir o comando do maior fabricante automóvel europeu. A ideia era a de formar um mega grupo integrado com a Volkswagen, responsável por um total de 10 marcas. Mas com esta tentativa desenfreada em adquirir a Volkswagen, um dos maiores conglomerados do sector automóvel mundial, a Porsche contraiu enormes dívidas. Wendeling Wiedeking (CEO da Porsche) assumiu um compromisso de 10,75 mil milhões de Euros perante um conjunto de bancos, o que provocou uma situação financeira muito preocupante, ao ponto de ser acusado pelo shareholder alemão (DSW), como tendo colocado a empresa à beira da falência.
Para Ferdinand Piëch, chairman da Volkswagen, uma coisa ficou clara: era preciso proceder a uma “revolta” para tratar um problema resultante de duas lideranças diametralmente opostas. Assim, a solução para este panorama negro parece ter surgido: a Volkswagen pretende adquirir todos os activos da Porsche por 8 mil milhões de Euros e salvá-la da situação delicada em que se encontra, comprando 49% das suas acções e tutelando todas as operações daí resultantes, permitindo-lhe uma “vida nova”. Na verdade, trata-se de uma medida de retaliação da Volkswagen, para castigar a ousadia do fabricante de automóveis desportivos de luxo, como uma “proposta de salvação” para que a empresa pudesse liquidar as suas dívidas.
Este caso ensina-nos que a liderança de mercado está relacionada, na maior parte das vezes, com a liderança pessoal. Com este processo de compra, a guerra entre os executivos Wendeling Wiedeking e Ferdinand Piëch estará perto do fim. Mas o que não deixa de ser curioso é que Wolfgang Porsche, chairman da Porsche, e conhecido pela sua serenidade e tendência para evitar conflitos, tenha proposto em reunião de Conselho de Administração, atribuir uma indemnização por demissão de 140 milhões de Euros a Wendeling Wiedeking, a maior alguma vez registada mundialmente. O Conselho “apenas” concordou em atribuir 50 milhões de Euros, mesmo assim, a maior indemnização alguma vez ocorrida na Alemanha.
Um “pára-quedas de ouro”, conforme refere Hans Hirt, líder da Hermes, uma das maiores empresas de fundos de pensões do Reino Unido, para alguém que é “a causa de todos os problemas financeiros e económicos” pelos quais a empresa passa.
Recordemos: o prejuízo da Porsche foi “conquistado” na tentativa de adquirir toda a Volkswagen.
Livro recomendado: Movimentos Estratégicos, Jorge Vasconcellos e Sá
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