A forma como a inteligência artificial tem vindo a conhecer novos desenvolvimentos nas múltiplas áreas da sociedade tem contribuído para a criação de novas ameaças e oportunidades.
Se, por um lado, o acesso à informação com profundidade, sob a perspetiva de qualquer ângulo e a propósito de qualquer tema já era um procedimento quase banal (recorde-se que, por cada segundo que passa, há 100.000 pesquisas no Google), por outro lado pergunta-se até que ponto essa informação pode ser criada automaticamente e substituir quaisquer conteúdos.
É a este propósito que se retoma o tema do Chat GPT, ao atravessar múltiplos setores de atividade, criando disrupção na forma do acesso à informação e afetando futuros métodos de trabalho.
É o Dr. Google, que corresponde a uma coisa do passado, porque o Chat GPT ao simular receitas e prescrição de exames, faz de médico; é a sua aplicação na produção de peças jornalísticas, jurídicas, científicas ou históricas, que se substitui à quantidade de horas necessárias a uma rigorosa e profunda investigação; são os métodos de ensino que se colocam em causa, uma vez que se trata de uma ferramenta que dota os estudantes de toda a informação útil a propósito de qualquer assunto (ao ponto de estarem mais atualizados que os docentes); são os promotores turísticos, que na produção de informação serão batidos em tempo e detalhe pela personalização dos conteúdos solicitados pelos clientes; é a advocacia e consultoria que encontra um substituto na produção de relatórios descritivos sobre o diagnóstico (e futuramente na solução), que reúne, articula e fundamenta os conteúdos que produz.
Mas o Chat GPT é apenas um player deste mercado. A sua chegada tornou-se no tema do momento e totalmente disruptivo, apenas porque estamos habituados a assistir ao quase monopólio da Google no mercado de pesquisa, onde cresce acima de 20% ao ano, desde 2011, ao ponto de neste momento superar o valor de mercado de 1,3 biliões de dólares. Ainda sem a notoriedade necessária, a resposta da Google ao Chat GPT vem através do chatbot Bard, no qual já investiu cerca de 300 milhões de dólares. Quer isto dizer que, para todos aqueles que já protagonizaram a queda da Google pela entrada do Chat GPT, que surge através da Bing da Microsoft, convém ser mais cuidadoso.
Não esqueçamos que uma grande vantagem da Google resulta do facto de ser o incumbente, tendo criado sinergias, flexibilidade e talento para dar uma resposta robusta às ameaças virtuais da Microsoft. E, é bom não esquecer que a Oriente existe sempre uma resposta ao mesmo nível, que neste caso é protagonizado pelo chatbot Ernie da Baidu. Uma coisa é certa: este mercado tornar-se-á mais competitivo, caminhará para algoritmos mais perfeitos, ao ponto do principal fator critico de sucesso residir na qualidade e rigor da informação produzida.
Uma das muitas críticas que é feita à pesquisa em Chat GPT é a de que, em muitos casos, a informação não é rigorosa e carece de profundidade. Isso é muito verdade, tal como já o são algumas peças jornalísticas, comentários políticos ou económicos, ou observações de professores em salas de aula, tantas vezes enviesados.
Na realidade, cada um de nós já consulta as fontes de informação pessoais, grupais ou editoriais que considera serem as mais credíveis. A nossa verdade sobre os conteúdos que pesquisamos é aquela que resulta da perceção que dela tivermos isso é válido em qualquer domínio da sociedade, ao qual o marketing não pode ficar alheio.
Acrescente-se, ainda, que as novas gerações não têm a pretensão ou a ambição de acumular informação como forma de veicular sabedoria. O que as motiva também já não é saber onde procurar essa informação, uma vez que a mesma se tornou banal e acessível (Google). O que elas exigem é uma resposta rápida, completa e atual a toda e qualquer pesquisa, preferencialmente por via da voz ou imagem.
As áreas de marketing (a par de outras) que exigem saber pensar, explorar, vivenciar a experiência ou projetar a criatividade manter-se-ão, mas aquelas que requerem uma tarefa rotineira poderão estar em risco. Tudo isto quando se projeta que a indústria do metaverso possa valer cerca de 5 biliões de dólares no final da década.
Compreendendo todas as ameaças envolvidas, o marketing pode e deve tirar proveito desta evolução da inteligência artificial, no que à gestão de conteúdos diz respeito. Porque, por muito que nos queiramos proteger do vento, não o conseguiremos parar com as mãos.