Muito se fala das ameaças comerciais que chegam da China, por via da sua forte competitividade em preço, quer em produtos ou serviços de múltiplos sectores de actividade: têxtil, calçado, mobiliário, electrónica, construção civil, etc.. E tudo isso faz sentido, a partir do momento que as economias europeias evoluíram para conceitos de baixo preço e os seus consumidores passaram a valorizar pagar menos pelas suas compras. Quando o preço de produção se torna no principal factor critico de sucesso de um mercado, sobra pouco espaço para valorização dos factores diferenciadores da oferta. Este é um drama que se vive, por exemplo, no sector têxtil e mobiliário em Itália, país que havia criado clusters dominadores em ambos os mercados. Mas também afecta os concorrentes das empresas chinesas em Angola no que diz respeito à construção civil, onde os preços comparativos são muito diferentes (bem como o resultado final). São múltiplos os casos e são conhecidos.
No entanto, é bom que não se olhe para este facto apenas do lado de quem se encontra numa posição competitiva desfavorável, pois a China tem-se constituído como um mercado promissor para um leque muito alargado de marcas, que encontram na dimensão do seu mercado e no desenvolvimento das suas tendências demográficas, um mar de novas oportunidades. Gostaria de partilhar apenas 4 exemplos de 4 sectores distintos:
· O Banco Santander formalizou um acordo com o China Construction Bank, que é o segundo maior banco chinês em activos, com o objectivo de servir as comunidades chinesas que não estão presentes nas grandes cidades. De facto, estas populações têm sido descuradas pela generalidade dos bancos chineses, por não se encontrarem nos principais centros urbanos. O potencial de oportunidade e de progressão é imenso, estando previsto um primeiro investimento na criação da rede bancária superior a 500 milhões de euros.
· A Coca Cola, face à pressão competitiva que vai sentindo nos mercados ocidentais, pretende alargar a sua quota de mercado na China, pretendendo ultrapassar a Pepsi e aproveitar toda a potencialidade que o mercado lhe oferece. Enquanto no México, o consumo per capita anual de Coca Cola é de mais de 150 litros, na China não ultrapassa os 7 litros (e na Índia não chega a 5 litros). Para tal, vai investir 2 mil milhões de dólares e construir 3 novas fábricas de engarrafamento.
· Depois de ter enfrentado inúmeros problemas na gestão da marca, a Saab vê no mercado chinês uma possível tábua de salvação para evitar a falência, para o que tem avaliado algumas parcerias para o fabrico de automóveis ( o que já ocorreu com a Volvo).
· A Burberry aposta decisivamente no mercado chinês para fazer explodir as suas vendas, ao ter comprado recentemente o master franchisor local por perto de 50 milhões de euros. Os últimos resultados dizem respeito ao final de Março e revelam um crescimento de vendas superior a 30%, que se prevê acentuar nos próximos tempos. Já em 2011 abriram 10 novas lojas e pretendem atingir 100 lojas no médio prazo. E a aposta é ser fiel ao posicionamento da marca: a última loja aberta em Pequim constitui um verdadeiro exemplo de modernidade, totalmente equipada com ecrãs digitais e criou um enorme furor à sua volta. Os preços dos seus produtos excedem os praticados noutras regiões em cerca de 40%, não porque as margens sejam maiores, mas porque as taxas alfandegárias e outros impostos se impõem.
Há uma auto-estrada de novas importações oriundas do mercado chinês. São soluções que os mercados ocidentais abraçam, à custa da falta de competitividade das empresas europeias. Contudo, há sempre outra perspectiva, pois as estradas têm dois sentidos.
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