Hoje assistimos a um momento sem paralelo no sector do turismo, onde se atingem números record em vários domínios: em 2017, quase 21 milhões de turistas visitaram Portugal, as dormidas superaram os 57 milhões e registaram-se mais de 55 mil postos de trabalho relacionados com a actividade turística. Todos os sectores que fazem parte do cluster do turismo, como a restauração, cresceram de forma impressionante no ano passado. No caso do rent-a-car, por exemplo, o volume de negócios registou um aumento de 45% em 2017.
Portugal tem estado na moda esuperado a concorrência, não só porque muitos turistas evitaram viajar para os países do Magreb, Turquia e Egipto, por força da instabilidade político-económica. O nosso produto turístico também se foi modernizando, criando novos foco de atractividade e trazendo múltiplos agentes para o mercado, por força da oportunidade gerada.
O país é visitado por todas as faixas etárias e classes económicas, que visitam muitos locais e que procuram Portugal por muitas e variadas razões. A oferta hoteleira e a restauração reinventaram-se, o cuidado na proteção da beleza das cidades ganhou protagonismo, o turismo local ganhou vida e os nichos de mercado multiplicaram-se em eventos desportivos, culturais, religiosos, musicais, empresariais, etc….
Começou-se a pensar na marca turística como um activo decisivo que hoje consegue capitalizar um conjunto de marcas autónomas que ganharam imenso protagonismo, a começar por Lisboa, que supera o número de turistas do Algarve e que tem o dobro do número de turistas do Porto, cidade que também se tem reinventado e conhecido os melhores encómios internacionais, tal como a Madeira, Açores, Alentejo, Nazaré e tantas outras de âmbito regional que têm emergido nos últimos anos.
Os resultados têm sido animadores. Ainda agora (Julho de 2018) a Secretária de Estado do Turismo registou e enalteceu o facto das receitas turísticas estarem a crescer três vezes mais do que o número de turistas, associando esta evolução ao posicionamento de Portugal face a outros destinos, bem como à captação de novos mercados, como os EUA, Canadá China ou Brasil.
Enfim, as praias foram-se enchendo, os hotéis foram esgotando a sua capacidade, o alojamento local foi explodindo e o ambiente foi ajudando.
Mas na vida de qualquer produto ou marca, tudo tem um ciclo. Existe o perigo de acharmos que tudo o que temos representa o melhor que o mundo já conheceu, que a concorrência ficou para trás, apenas e só por acharmos que temos o melhor produto turístico. Incorrer nessa falta de humildade poderá ser o maior erro a cometer neste processo. Ou, como dizia recentemente Eduardo Lourenço, “… é preciso que não estejamos sempre a viver um Ronaldo coletivo, um “nós somos o melhor do mundo”.
E neste momento assistimos a um decréscimo, ainda que ténue, do número de turistas, que voltaram a explorar os mercados da Tunísia, Egipto ou Turquia, fruto de uma política de preços baixos e diminuição da violência nessas regiões. Estima-se que o Algarve poderá perder 110 mil turistas ingleses: em Junho deste ano já se registou uma quebra de 11% de turistas britânicos e 20% de alemães. O próprio INE corrobora essa tendência, uma vez que de Janeiro a Maio de 2018, foram os residentes quem mais contribuíram para o aumento das dormidas: um crescimento de 3,4% em comparação com 0,8% dos não residentes.
Afinal, de que vale aumentar excessivamente os preços, tirando partido da “boa onda”, se depois se acaba nas redes sociais pela pior das razões, como aconteceu recentemente com alguns restaurantes lisboetas ou com filas intermináveis à chegada ao aeroporto?
Neste contexto e como já aconteceu em tantos outros casos, os “arrivistas” do turismo sairão pela mesma porta por onde entraram. Sobreviverão aqueles agentes que conseguirem pensar mais nos clientes do que no oportunismo de curto prazo e simultaneamente consigam oferecer experiências diferenciadas, marcantes e valiosas aos públicos-alvo que servem. É a altura de aproveitar os nichos de mercado – https://tryportugal.pt/– que são dotados de enorme criatividade, vontade e capacidade de execução.
Está, pois, na altura de pensar no Marketing do Turismo de uma forma mais estratégica, sem descurar o operacional, isto é, mais do que olhar para produto, olhar para o mercado. Mais do que saber o que temos para vender, é saber que públicos-alvo servimos, quais são os principais critérios de segmentação racional e emocional, que boas práticas são levadas a cabo por alternativas concorrente, para que saibamos que experiências somos capazes de oferecer a cada segmento e qual a transversalidade da oferta que permite a fidelização e um passa-palavra positivo. Afinal são os mercados que determinam os produtos e não o contrário.
Exige-se uma integração da visão do marketing do turismo entre todos os intervenientes, conseguindo oferecer a solução certa, no momento certo, ao público-alvo certo e com a mensagem certa. E concertada!
Deverá coexistir um compromisso com a Qualidade, Transparência e Valor. E, acima de tudo, um respeito pelo bem-estar das populações residentes. Não se podem desertificar as cidades em prol dos turistas, porque os locais são a essência da sua identidade cultural. Que é o que fica, quando o ciclo de vida conhecer piores dias!
Numa viagem, aquele que mais importa é o viajante!