Há duas fortes razões que explicam o facto de as empresas necessitarem reinventar os seus modelos de negócio, à medida que se adaptam a uma nova realidade competitiva.
A primeira está relacionada com uma evolução, sem precedentes, do avanço e aceleração tecnológica. Basta reter a ideia de que o número de patentes dos últimos 15 anos é superior a todas as inovações que foram registadas em toda a história da humanidade. A segunda está intimamente ligada à evolução do comportamento dos clientes e da subida do seu nível de expetativas e grau de exigência.
É neste contexto que as grandes empresas mundiais, que operam em diferentes setores de atividade, estão a criar comunidades interconectadas digitalmente e fisicamente, formando um ecossistema. Desta forma, afetam todos os setores tradicionais da economia, ao providenciar soluções aos clientes, oferecendo-lhes o que querem, quando querem e na forma como pretendem consumir. A capacidade de ligar ativos corpóreos à informação e recursos, numa lógica integrada, é aquilo que está a permitir criar valor para o cliente de amanhã, de forma customizada e quase individualizada.
O futuro tratará de reorganizar os setores tradicionais da economia numa estrutura assente na necessidade dos seus clientes, suprindo os seus desejos, independentemente do tipo de consumo que pretendam. É aqui que o ecossistema ganha vida, porque é ele que reduz o atrito e permite a conexão entre o negócio e os clientes, formando uma nova estrutura económica.
O que é curioso nesta evolução é que estes ecossistemas partem do conhecimento efetivo de quem são os clientes e o seu único foco assenta na forma de como podem criar valor junto do seu mercado. As empresas que estão preparadas para operar num ecossistema integrado são capazes de juntar uma lógica digital e física (omnicanal), ao mesmo tempo que projetam essa informação e a integram noutras empresas que fazem parte do mesmo grupo económico.
Não se trará de regredir no tempo para uma lógica de conglomerado, típica da década de 80, ao abraçar o portefólio das empresas em diferentes indústrias, por si só, mas dar-lhe uma lógica de integração funcional, com centralidade no cliente.
Até agora, as indústrias tradicionais tinham a sua própria lógica de negócio e tratamento de informação. Era isso que tornava um banco especialista dentro da sua área de negócio e que o tornava distinto de uma seguradora, farmacêutica ou indústria automóvel. Todavia, hoje, quer pela importância do big data, quer pela capacidade de transformar a informação em small data, isto é, customizada, as empresas permitem-se desenvolver sistemas analíticos avançados com ajuda da inteligência artificial, podendo interferir noutras indústrias. É assim que as operadoras de telecomunicações ou o retalho também conseguem aferir o risco de crédito, por exemplo.
Se, por exemplo, no setor bancário já assistimos à integração das contas correntes de vários bancos numa única app, no futuro operaremos com apps que integram a gestão da nossa atividade enquanto consumidores, em todas as áreas de consumo, ou seja, caminhamos para a construção da app pessoal.
Tomemos como exemplo o ecossistema relativo à nossa casa. Se, até agora, procurávamos um mediador imobiliário para encontrar uma casa e, posteriormente, íamos ao banco para obter um crédito à habitação, a uma seguradora para cobrir os riscos do imóvel e a uma loja de decoração e eletrodomésticos para comprar toda a mobília, hoje estão a nascer soluções chave-na-mão, que cobrem toda esta jornada do cliente, seja na garantia do financiamento, na aquisição de produtos ou no acesso aos serviços de manutenção da própria casa.
E não esqueçamos uma componente importante, cada vez mais valorizada. Estes ecossistemas diferenciam-se pela sustentabilidade, encontrando as melhores soluções para uma verdadeira transformação digital e redução do impacto energético, uma vez que agregam múltiplos setores de atividade.
É evidente que estas soluções só vingarão se obtiverem a confiança do mercado, seja porque são funcionais, mais baratas (por criarem sinergias entre si) ou mais rápidas no acesso à informação. Se assim for, então estamos perante uma redução drástica do atrito e, consequentemente, de soluções vencedoras.
A guerra económica do futuro continuará a ser travada pelo acesso à informação. Terão vantagens competitivas aqueles que conhecerem cada cliente, per si.
Há sempre o problema da proteção de dados, que ganha uma projeção maior, quando na mesma aplicação, ficam registados os dados pessoais e respetivo perfil de compra de cada consumidor, em todas as variantes da sua vida. Mas essa é uma decisão que diz respeito a cada um de nós, tal como é optativo estar presente nas redes sociais, sabendo que a informação aí colocada pode ser partilhada pelo mundo.
in https://linktoleaders.com/ecossistemas-a-caminhar-para-a-app-pessoal-pedro-celeste-pca/