Que o mundo navega de forma digital e que dele dependemos, já se sabe. Que o acesso a todo e qualquer tipo de informação encontra resposta nos meios digitais, também deixou de constituir novidade. Provavelmente, estamos a caminhar para o momento em que isso também é válido para a aquisição de qualquer bem ou serviço.
As taxas de crescimento de algumas das novas plataformas digitais (ex: alimentação, saúde, turismo, transporte) chegam a atingir os 40% ao ano e a capitalização bolsita das mesmas não pára de crescer exponencialmente.
Por exemplo, a Delivery Hero é a empresa líder mundial na área da entrega de refeições, em números de unidades operacionais, clientes e áreas geográficas de intervenção, uma vez que está presente em mais de 40 países com mais de 6.000 colaboradores. Actua numa lógica multicanal, com particular destaque para o mobile marketing. As suas vendas superam os 2.000 milhões de euros, tendo crescido 64% no último ano e a sua capitalização bolsista atingiu 6,2 mil milhões de euros, a par da sua concorrente Just Eat. Os números são impressionantes, mas os seus resultados registaram um prejuízo de 109 milhões de euros em 2015, a que se seguiram resultados negativos de 71 milhões € em 2016.
Outro player digital, a Deliveroo, está avaliada em 1,7 mil milhões de euros, com vendas de 103,9 milhões de euros, mas regista um prejuízo de 104,4 milhões de euros, curiosamente superior às vendas. A nossa conhecida Uber, está avaliada em 70 mil milhões de dólares, mas regista prejuízos crescentes em 2017, no valor de 3,3 mil milhões de dólares. A propósito deste assunto, é particularmente interessante ler o seguinte artigo da Forbes: “Why can’t Uber Make Money“.
Podemos aplicar o mesmo raciocínio a uma larga maioria de empresas que apostam em plataformas digitais, ou seja, vendas crescentes, com resultados não condizentes. E algumas delas vêem conhecendo a desvalorização da sua própria capitalização bolsista, como a Blue Apron, com quedas superiores a 200% no último ano, muito por culpa da Amazon, que vem intervindo em múltiplos sectores de actividade de bens de consumo.
Os investimentos tecnológicos que nos permitem ter um acesso fácil e rápido a quase tudo são enormes. A grande maioria das plataformas digitais não consegue atingir a fase de crescimento, em função da miríade de concorrentes. Mas, mesmo aqueles que conseguiram vencer a resistência do mercado, não geram receitas suficientes que permitam superar os investimentos e custos, necessários para operar de forma competitiva em qualidade de serviço e preço.
A sua sobrevivência e crescimento, estão sempre dependentes da capacidade de financiamento. É esta a lógica que explica o constante movimento de aquisições e fusões, que apenas vê na rotação das vendas a forma de poder chegar a lucros elevados, uma vez que a rentabilidade de vendas de muitas destas plataformas não atinge 1%.
Assim, o break-even da realidade digital é distante no tempo e requer persistência, coerência na estratégia, garantia da qualidade de serviço, preços competitivos, diferenciação face à concorrência e, sobretudo, capacidade para atrair investidores.
Cada um de per si, sendo bem-sucedido, engordará mais tarde os tubarões digitais da Google, Amazon, Facebook, Apple ou Microsoft que, dia a dia, cada vez mais, dominam a informação, conhecimento dos mercados e consumidores, ao passo que alargam o seu portfólio de soluções. Todos somados, produzem uma capitalização bolsista de 3,4 biliões* de dólares.
A Apple brevemente será a primeira empresa no mundo a valer em breve 1 bilião de dólares e já hoje vale mais de 13 vezes a Bolsa de Lisboa
*bilião = um milhão de milhões (1 000 000 000 000 ou 10 elevado a 12)
Livro Recomendado: Swimming with digital sharks, Brian Pasch