Vivemos numa época de transição entre o valor do dinheiro e o valor do tempo. E na avaliação da utilidade de cada um.
A verdadeira constante do nosso quotidiano chama-se mudança, que conhece todos os dias passos cada vez mais acelerados. Se, por um lado, assistimos a um crescimento exponencial do poder dos computadores, fruto dos avanços tecnológicos, por outro constatamos que começa a haver um crescente movimento de complementaridade dentro da própria tecnologia, de que é exemplo o casamento da robotização com a inteligência artificial e o respectivo impacto no desaparecimento de milhões de postos de trabalho.
Este conjunto de acelerações converge ainda com um dos principais desafios da inovação no mundo empresarial e em particular de tudo aquilo que diz respeito à interacção com clientes: a poupança de tempo na procura de informação, na transacção e na compra.
A necessidade de, num curto espaço de tempo, produzir ou servir mais e melhor, desafia as empresas e as suas marcas a estarem cada vez mais próximas do seu mercado. O acesso a qualquer informação em microssegundos via Google ou a uma visualização Youtube são exemplos conhecidos, comuns e diários. E o que dizer das Apps, que nos dão acesso à última informação específica que pretendemos consultar no imediato? Ou a transacção via e-commerce que se tornou banal e que abrangerá bens de qualquer valor, mais cedo do que tarde?
Em 2001, David Allen lançava o livro Getting Things Done, que compilava um conjunto muito válido de técnicas e dicas para se optimizar o tempo útil e que ajudavam os executivos a aumentar os seus níveis de produtividade. Ainda hoje, a sua metodologia tem milhões de seguidores que procuram na variável tempo o segredo do êxito.
Passados quase duas décadas, esse mesmo tempo constitui hoje um bem valioso que assume um papel crucial em todas a envolvente das dinâmicas empresariais. Na antecipação face à concorrência, na rapidez da capacidade de resposta aos clientes, na passagem de uma lead a uma venda, etc…
Está estimado que as pesquisas no Google nos poupam mais de 50 mil milhões de minutos por dia em pesquisas de informação. E esta poupança de desperdício de tempo é válida para a compra de uma televisão ou de um livro, no acesso a um filme ou um jogo de futebol, numa transferência bancária ou na reserva de uma passagem aérea.
Cada vez mais, a inovação eficaz requer libertação de tempo. E é aqui que se dá a transição para um mundo novo e mais acelerado, porque o tempo que poupamos hoje estará muito longe do que pouparemos num futuro breve.
Uma deslocação entre dois locais que demorava 4 semanas a ser realizada por carruagem, passou a ser efectuada em 4 dias de comboio e em 4h de avião. O Hyperloop tratará de reduzir esse espaço de tempo para menos de 1h e a realidade virtual ou os avatares concretizarão essa viagem em tempo zero.
No nosso dia-a-dia não será diferente. Saberemos que não há queijo no frigorífico quando este nos alertar ou mesmo encomendar mais uma embalagem automaticamente através de um drone via Amazon. O único momento em que nos aperceberemos que faltava queijo será quando o retirarmos da respectiva encomenda e o voltarmos a colocar no frigorífico.
Esta realidade sobre a economia do tempo despendido alargar-se-á aos mais variados sectores de actividade: se na saúde variadíssimos testes serão efectuados por controlo remoto através do computador, por substituição do laboratório, na indústria a impressa ao 3D tornar-se-á banal e eliminará meses de produção no fabrico de produtos ou, por exemplo, obras de arte.
Esse precioso tempo que se liberta dará às empresas mais flexibilidade, mais capacidade de operar a um nível global e potencialmente mais margem. Do lado do consumidor, o futuro tempo livre poderá representar um de dois polos: o do prazer ou da agonia. Mas há um tempo que não volta mais!
“Os dias talvez sejam iguais para um relógio, mas não o são para o homem!”, Marcel Proust
in www.executiva.pt/blogues/o-tempo-que-o-tempo-tem