No momento em que a incerteza é a única variável constante do mundo dos negócios, torna-se importante olhar para o valor esperado da evolução dos mercados comparativamente aos dados reais de desempenho das empresas. De um ponto de vista mais analítico estamos a referir-nos ao acompanhamento da evolução do volume de negócios, resultados e goodwill.
Ora, se vendas e resultados são parâmetros objetivos e facilmente identificáveis, já o goodwill é envolto de alguma subjetividade, pois representa a expetativa de resultados esperados em função de tendências, taxa de crescimento do mercado potencial, da entrada em novos negócios, parcerias futuras, dimensão e qualidade da base de dados dos clientes, valor da marca, etc…
Muitas são as empresas que se dedicam a trabalhar em Analytics ou Business Intelligence, exatamente com a perspetiva de aferir sobre o valor do goodwill, que podemos resumir como sendo um valor expetável de mercado que encontra na capitalização bolsista uma expressão quantitativa próxima da realidade.
Na verdade, este indicador representa, não só a realidade atual, fruto do desempenho da atividade da empresa, mas também incorpora a expetativa de resultados futuros em função da sua estratégia, incluindo um sentimento positivo ou negativo que influencia o valor de mercado e que, por essa razão, aumenta ou diminui a procura por ações dessa empresa.
Vejamos alguns exemplos: quando olhamos para as tendências do mercado verificamos que o setor da tecnologia avançada, que inclui a inteligência artificial e a robótica, tendem a ganhar um valor esperado futuro mais elevado, sobretudo pela importância com que vão determinar o dia a dia dos consumidores e das empresas no futuro. Já numa perspetiva de curto e médio prazo podemos identificar como promissor o setor farmacêutico e, em particular a biotecnologia, como a indústria de onde nasceram as soluções de combate à pandemia em que vivemos.
Mas uma empresa que tenha sido muito bem-sucedida pode gerar um valor esperado elevado mesmo que esse fenómeno ainda não se tenha refletido em vendas e, sobretudo, em resultados. É o caso da Uber, cujos resultados, desde a sua fundação em 2009 até à data acumularam prejuízos consecutivos num valor total próximo de 8 mil milhões de dólares, mas cujo valor atual de mercado é de 100 mil milhões de dólares. A história da Amazon não é muito diferente. Acumulou prejuízos consecutivos e raramente deu lucro durante os 13 primeiros anos de existência, mas neste momento o seu valor de mercado é de 1,7 biliões de dólares. Por cá poderíamos falar da Farfetch como exemplo de um percurso semelhante.
Para qualquer start-up a questão central que se coloca prende-se com a capacidade em perceber por quanto tempo a empresa consegue viver, acumulando prejuízos até conseguir explodir nos seus mercados.
Olhemos então com algum especial detalhe para três setores de atividade (automóvel, indústria farmacêutica e online), tentando cruzar a informação existente sobre vendas, resultados e capitalização bolsista de três dos principais players em cada mercado.
Quem mais vende é quem gera menos resultados e que projeta maior valor de mercado não é quem lidera o rácio capitalização bolsista/resultados. Fazendo este exercício para Tesla, percebe-se o extraordinário peso que a expetativa de resultados futuros tem no valor de mercado da empresa. É o que ocorre com muitas empresas que se alimentam de resultados que só aparecerão no futuro, como é o caso de todas aquelas que apostam na exploração do espaço (Virgin Galactic, Spacex, etc…).
Quando a evolução de todas estas variáveis está alinhada no seu crescimento, a empresa vai respirando saúde e ganhando cada vez mais força no mercado: aumenta as vendas, com melhores resultados, ao mesmo tempo que alimenta a expetativa de um futuro promissor. É isso que fazem as empresas que vão dominado os mercados, em detrimento daquelas que representam modas passageiras e efémeras.