Nem sempre é clara a relação entre a tecnologia e o desempenho profissional. Se, em muitos casos, o ambiente tecnológico dentro da empresa difere de departamento para departamento, por outro lado, a dependência total da tecnologia por parte dos seus profissionais, encerra, em si mesma, limitações que se podem revelar nefastas.
Na ausência de protagonismo e capacidade de desenvolvimento pessoal, os colaboradores não se sentem valorizados e, na maior parte das situações, não creem que estejam a contribuir diretamente para o atingimento dos objetivos empresariais. A tecnologia deveria conectá-los a esses desafios e guiá-los na prossecução dos resultados, mas é comum criar precisamente o efeito contrário.
No caso do marketing não é distinto. Muitos responsáveis de marketing vivem em permanente conflito com outros departamentos da empresa, com a finalidade de assegurar os seus resultados, seja com a área financeira ou com o próprio departamento comercial. Neste contexto, não sobra tempo nem espaço para o pensamento estratégico, que no fundo representa a razão de se prosseguir num determinado caminho. A rotina potencialmente provocada pela tecnologia gera uma dependência mecânica do processo que retira valor à criatividade e visão holística da gestão de marketing.
Por vezes, os profissionais de marketing parecem hamsters que, numa azáfama constante, não conseguem sair da mesma posição. Mais do que despender tempo a trabalhar para o negócio, fazem-no a trabalhar no negócio. O problema é que este raciocínio contribui em muito para a mediocridade no desempenho, pela simples razão de não permitir a alavancagem estratégica do marketing e o respetivo contributo para os resultados gerais da empresa. E o caso ainda se torna mais grave, quando ao marketing apenas estão acometidas tarefas de comunicação, também elas tantas vezes rotineiras.
Todos temos conhecimento das dificuldades em fazer alinhar pelo mesmo diapasão os departamentos comerciais e de marketing. Mas essa falta de sintonia pura e simplesmente não faz sentido. E a tecnologia deveria contribuir precisamente para esse alinhamento, ao invés de forçar a estanquicidade entre as duas áreas. Cada um está confinado aos respetivos objetivos, como se eles não se cruzassem e não contribuíssem para o mesmo fim (leads e fechos, não são a mesma coisa, mas fazem parte do mesmo processo).
Nas boas práticas empresariais, onde impera uma clara visão estratégica e com foco no cliente, os profissionais de marketing sentem que estão a contribuir para uma causa maior, fazendo parte de um todo que rema para o mesmo lado. Mas isso só é possível se a própria tecnologia der o seu contributo e interligar os objetivos de cada área, porque é precisamente na interligação departamental que as empresas operam. As demonstrações de resultados não são departamentais, mas globais. Representam o agregado dos diferentes contributos para o resultado final.
São estas empresas que mais retêm talentos nas áreas de marketing. Já nos casos opostos, o turnover chega a atingir números próximos a 80%, reveladores de pelo menos duas causas: a falta de noção por parte de quem administra do que deve representar um departamento de marketing e o seu contributo para a gestão; a necessidade dos profissionais de marketing procurarem o reconhecimento em ambientes onde o seu desempenho seja valorizado e sintam que podem progredir na carreira.
Tanto se tem falado na necessidade de otimizar a experiência do cliente, que deve ser avaliada com um todo: na pesquisa, na promessa, na compra e no pós-venda. Ora, se o desafio é este, a tecnologia não pode estar apenas focada em resolver problemas isolados, como se estivesse partilhada em silos.
Pelo contrário, deve provocar o alinhamento dos departamentos, constituir-se como contributo agregador na formação de proposta de valor e, sobretudo, representar um pilar do desenvolvimento estratégico. Aquele que é corporizado pela capacidade, inteligência e criatividade dos seus profissionais.
in https://linktoleaders.com/tecnologia-e-marketing-dos-silos-a-estrategia-pedro-celeste-pca