Não há meio de comunicação social que não aborde o novo surto viral do Covid19, vulgo coronavírus. Há uns em particular que dificilmente encontram outras temáticas de interesse público. Percebe-se o mediatismo e a necessidade de manter as populações informadas, mas já há quem fale em histeria.
Num registo meramente pedagógico e profissional, olhemos para este fenómeno do ponto de vista dos mercados e dos efeitos possíveis ao nível do marketing empresarial.
Há um conjunto alargado de setores de atividade que antecipa uma atitude pessimista face ao fenómeno. Na verdade, segundo um estudo da Associação Empresarial de Portugal, quase 50% das empresas portuguesas reconhece que o coronavírus já teve efeitos negativos na sua atividade e apenas 5% dos empresários considera que estão imunes a qualquer impacto negativo em termos operacionais. Identificam como principais problemas as dificuldades de abastecimento externo, com particular destaque para as matérias-primas provenientes da China e Itália, atrasos nos prazos de entrega de produtos importados, decréscimo das encomendas e cancelamento ou adiamento de feiras internacionais.
A este propósito, fiquemos com alguns dados reveladores da razão que assiste a este pessimismo:
- a perceção do crescimento deste efeito viral afetou as bolsas em todo o mundo e o índice Dow Jones caiu como nunca. Com o Nasdaq e S&P 500 o cenário não é muito diferente;
- a suposta concentração na China deste surto, remete-nos para a sua importância num contexto global. Representam 50% do comércio mundial de computadores, 59% de equipamentos elétricos e 33% do setor automóvel;
- O PIB chinês crescerá menos de 4% este ano, quando estava estimado que chegasse aos 6%; a Alemanha reviu o crescimento do PIB para metade; a Itália entrará em recessão e o PIB médio da União Europeia atingirá uns ínfimos 0,6%;
- Nos EUA e nas últimas semanas, as agências de viagens registaram quebras superiores a 20% no número de bilhetes vendidos e a rota EUA China caiu 75%; a Alitalia cancelou voos para 38 rotas distintas;
- O valor gerado por feiras, congressos e eventos estimado em 2,5 triliões de dólares, deverá cair cerca de 50%
A parte caricata destes novos tempos revela que o consumo da cerveja Corona caiu 150 milhões de euros na China e que quase 40% dos norte-americanos, através de uma sondagem da agência de Relações Públicas 5W assume não consumir a marca “sob qualquer circunstância”, ao passo que 16% “não tem a certeza” se a infeção estará relacionada com a cerveja.
Por cá, assistimos à corrida de alguns aos supermercados, ao mesmo tempo que se venderam 100.000 máscaras no último trimestre, período no qual a Raclac, empresa da indústria de produtos descartáveis de Famalicão, viu as vendas crescer 30%.
E se no mundo físico há menos gente a circular e a agrupar-se, não deixa de ser verdade que no mundo virtual as tendências são opostas. A compra online passou a constituir a resposta possível e segura para muitos setores de atividade.
Por exemplo, no mercado de luxo, onde a China tem um peso mundial de 30%, assistimos a uma redução da circulação das pessoas pelas lojas nas grandes cidades, mas não no interesse pelo produtos. Uma das principais beneficiadas com este fenómeno é a nossa conhecida Farfetch, que num só dia fez uma venda de 1 milhão de dólares. O que já começava a ser banal para produtos de pouca monta, começa a ganhar expressão para produtos de somas avultadas.
Se até agora o vírus e o antivírus eram temas da informática e do online, eis chegado o momento que o offline toma a dianteira. Os líderes mundiais do digital agradecem.
in www.linktoleaders.com/virus-de-online-para-offline-pedro-celeste