Sabe-se pelas notícias recentes que as Big Tech acabam de despedir, em conjunto, cerca de 30.000 pessoas e prometem continuar esta estratégia em 2023. Com a recente tomada de poder no Twitter, Elon Musk tomou a dianteira neste domínio, seguindo-se-lhes o Facebook e Amazon como os mais expressivos na redução de ativos. Mas o rol continua se mencionarmos a HP, Netflix, Microsoft ou Shopify.
Este denominador comum é exatamente o mesmo que levou todas estas empresas a crescer desmesuradamente no número de colaboradores desde 2020, aproveitando o boom tecnológico decorrente da necessidade de optar pelas soluções digitais, por força da pandemia.
A necessidade de garantir um forte investimento publicitário que garantisse a sua competitividade, num momento particularmente oportuno, alimentou o reforço das equipas comerciais e de marketing. Ora, uma vez conquistadas posições invejáveis a nível mundial pela grande maioria destas empresas, assegurando um distanciamento significativo para os demais competidores, é altura de ler o mercado, interpretar os sinais tempestuosos que sopram de Leste e decifrar a inflação. A retração ao nível dos ativos de colaboradores foi a resposta mais à mão.
Como é simples de compreender, qualquer empresa aumenta resultados quando gere eficientemente uma de duas vias: reforço das receitas ou redução dos custos. Que foi precisamente o que aconteceu, a dois tempos, com as empresas já citadas. É que uma das principais vantagens competitivas que unem estas empresas que lideram o mundo digital, resulta precisamente da sua capacidade em crescer continuamente através de algoritmos cada vez mais aperfeiçoados, capazes de ler o mercado, antecipar necessidades e customizar a oferta e a comunicação.
Mas atenção: é a cultura de empresa, as suas pessoas e a forma como estas concretizam a estratégia em valor para o cliente, que as distingue das alternativas. É assim que, de forma incessante, se permitem perpetuar uma lógica de inovação, criando soluções para os consumidores e satisfazendo o ecossistema de parceiros, acionistas e colaboradores, com resultados grandiosos.
É por tudo isto que esta gestão de sinergias assente na redução de talentos (se o forem) pode constituir-se como um erro imperdoável. É que estamos perante profissionais que operam por equipas que se especializaram na máxima profundidade sobre o tema ou desafio do qual eram responsáveis e para o que tinham total autonomia (e responsabilidade) no que toca à tomada de decisão.
É neste sentido que estes talentos se sentem mais livres para despender mais tempo, testar, errar, testar e investir naquilo que realmente é a sua área de especialização, a par do seu crescimento profissional. Na verdade, esta agilidade confere-lhes a capacidade de desenvolver soluções de muita qualidade, a uma alta velocidade na tomada de decisão, a par de uma excelente execução, sempre com o princípio de servir melhor o cliente.
Se é destes profissionais que as Big Tech se estão a livrar, então há qualquer coisa de profundamente errado nesta estratégia. O Excel aceita de bom grado qualquer simulação que aumente resultados no curto prazo, mas diz a história das empresas que todos os que são talentosos (sobretudo os empreendedores) testarão a sua mais valia num vizinho próximo, com prejuízo de quem os abandonou. E não deixa de ser curioso que a história de vida de muitos destes empresários se construiu precisamente desta maneira.
É bom ter sempre presente que, independentemente do setor de atividade ou dimensão das empresas, o sucesso empresarial se constrói através das pessoas. São elas as protagonistas da força e distinção de qualquer marca. Sobretudo aquelas que estão comprometidas e são briosas, competentes, responsáveis e alinhadas com a cultura e valores da empresa. O insucesso ocorre quando não percebemos isso e os vemos brilhar do outro lado da rua.