Mais de um século depois de Einstein ter publicado o seu conhecido artigo sobre a teoria da relatividade (1915), um grupo de cientistas anunciou ter conseguido pela primeira vez, fotografar um buraco negro, munidos de telescópios e após a recolha de milhares e milhares de pequenas fotografias.

Já sabíamos que quando olhamos para o céu vemos estrelas que provavelmente já lá não estão, precisamente por se distanciarem anos-luz da Terra. Isto é, vemos o passado com os olhos do presente. Mas ver um buraco negro é diferente: é ver o invisível. E quando alguém nos diz que fotografou o invisível, toda a leitura do que vemos à nossa volta tem de ser forçosamente alterada, na forma como agimos e gerimos.

Ainda agora estamos a assistir ao crescimento da criptomoeda sem a compreender muito bem, envolta em receios, mas que parece ser uma solução adaptada as novas circunstâncias. É nesse sentido que, provavelmente é mais avisado aceitar a realidade da disrupção tecnológica, enfrentar a inovação e torná-la transparente e acessível, em vez de resistir teimosamente como se fossemos capazes de a derrotar. Foi assim com a televisão, mais tarde com os computadores, depois com os telemóveis e smartphones e, mais recentemente, com as redes sociais. Todos foram disruptivos, todos vingaram e, mais cedo ou mais tarde, a todos aderimos.

E é exatamente porque temos receio do mundo novo que muitas vezes diversificamos as nossas opções ao não colocar todos os ovos no mesmo cesto. É assim que, por exemplo, os analistas financeiros nos aconselham a repartir o portefólio dos nossos investimentos, da mesma forma que as cadeias de retalho também criam marcas diferentes para cada área de negócio. Está tudo correto se olharmos na perspetiva da redução do risco. Mas hoje em dia não chega, pois há uma perspetiva nova que tem que ser materializada.

A diversificação só deve ocorrer desde que não coloquemos em causa o sucesso do passado e não percamos o foco no nosso público-alvo. São vastíssimos os exemplos de empresas que, querendo crescer, o fizeram entrando em áreas de negócio que não dominavam, gerando mau desempenho, ao ponto de afetar a marca mãe e obrigar a regredir. Foi assim no tempo em que os bancos vendiam seguros, imóveis, livros e até porcelanas. Crescer sem foco será um caminho sem retorno.

Por outro lado, tendemos a complicar o que é fácil. Por exemplo, de um momento para o outro as empresas descobriram os millennials, que mereceram o foco da atenção mundial, com o objetivo de compreender as suas mentes, a sua disponibilidade financeira e as suas preferências. Segundo a Morgan Stanley representam a geração mais promissora, porque são eles que começam famílias e gastam dinheiro para assentar a sua vida. Mas esta “descoberta” é mais do mesmo do que ocorreu em gerações passadas: os millennials não são diferentes na sua heterogeneidade relativamente à geração anterior: uns têm mais dinheiro, outros menos, uns são mais cultos, outros menos, uns são mais conservadores, outros mais radicais, uns privilegiam o preço e outros a qualidade. Nomes novos, mas nada de novo. Adiante.

A verdade é que o stress que nos provoca a incerteza é hoje o nosso “buraco negro”. À medida que perdemos o controlo sobre o ambiente que nos envolve, aumenta a ansiedade e a propensão para temer o desconhecido. E é esta aversão ao risco que nos impede de focar mais nas oportunidades do que nas ameaças. O problema é que essa postura será derrotada pela força do tempo.

Em suma, trata-se de um mundo onde uma visão demasiado tradicional, linear e vertical não nos vai ajudar, porque não voltaremos à norma. As regras do jogo mudaram. Percebê-las e ver nelas uma oportunidade é o maior desafio de qualquer gestor.

Churchill dizia que “um pessimista vê dificuldades em qualquer oportunidade enquanto que um otimista vê oportunidades em cada dificuldade”. Creio que a visão correta se encontra a meio caminho: a realista.

Published On: Março 16, 2021 /