Que o mundo navega de forma digital e que dele dependemos, já se sabe. Que o acesso a todo e qualquer tipo de informação, encontra resposta nos meios digitais, também deixou de ser novidade. E caminhamos a passos largos para o momento em que isso também é válido para a aquisição de qualquer bem ou serviço.

O tema do digital enche os conteúdos das conferências, dos blogues e preenche as tendências de consumo e da forma de viver das empresas. Na verdade, qualquer registo oriundo do tema digital se torna desatualizado na primeira instância, tal a velocidade da adesão, a intensidade da utilização e a crescente dependência do mesmo. Isto porque o acesso à informação, produtos e serviços, está banalizado pela crescente disponibilidade no mundo online.

Todos temos acompanhado o ciclo vertiginoso com que a tecnologia evolui, em todas as vertentes da atividade das empresas e, em particular, no comportamento dos clientes e respetiva gestão das suas rotinas. Atente-se ao facto de que nos últimos 2 anos foi gerada 90% de toda a informação que hoje em dia está disponível, para que se perceba a produção daquilo a que vulgarmente se intitula Big Data.

Por esta razão, assistimos hoje a um conjunto de tendências que ocorrem em múltiplos mercados e que obrigam a repensar as estratégias empresariais e até os modelos de negócio: o desígnio da Criação de valor para o Cliente obriga a transformações acentuadas em sectores como a banca, indústria hoteleira, alimentar, farmacêutica, telecomunicações, ou retalho em geral, através da afirmação do mercado digital.

E ainda persiste a ideia de que o digital não é tema que diga respeito aos mercados B2B, sobretudo por se tratarem de áreas de negócio com maior grau de complexidade no processo de compra. Nada de mais errado. Na realidade, os clientes de mercados B2B recorrem de forma natural aos canais digitais, como forma de conhecerem as melhores ofertas, comparando-as, com vista a uma tomada de decisão mais acertada. Um recente estudo da McKinsey aplicado a 1.000 clientes em 4 países, revela ser crucial que os fornecedores de soluções B2B possuam canais digitais eficazes, sobretudo no momento da primeira compra.

Seja qual for o mercado, este novo mundo digital obriga as empresas a pensar de forma mais disruptiva, criando oportunidades, questionando-as, inovando, falhando e inovando outra vez. É, por isso, crucial atuar numa lógica de Criação de Valor, perguntando-nos, em permanência, como podemos melhorar a nossa estratégia de aprendizagem, em que sentido a tecnologia e o formato digital da comunicação e distribuição pode ajudar a reforçar a nossa promessa, oferecendo novas soluções ao mercado que permitam aos clientes suprir novas necessidades.

Ouvimos falar em carros inteligentes, repletos de sensores, que prometem diminuir drasticamente o número de acidentes, por incremento da segurança, como se fosse algo a que já estivéssemos habituados. Aceitamos como óbvio que o autodiagnóstico médico terá lugar a breve prazo, permitindo-nos conhecer em tempo real os indicadores básicos do nosso estado de saúde, bem como providenciar alertas sempre que a mesma esteja em causa. Deixaremos de ir às compras sozinhos porque uma aplicação nos acompanhará, com sugestões sobre as melhores opções, nos ditará regras sobre a gestão orçamental pessoal e nos tornará mais ágeis face às promoções. Teremos um consultor de moda permanente que simulará a melhor combinação de roupa, tipo de cabelo, cosmética, etc… Tudo nos parecerá natural e, em breve, os mais jovens não perceberão como foi possível alguém ter vivido de outra forma.

Numa busca incessante pelo domínio da tecnologia do futuro, com especiais esforços concentrados na Inteligência Artificial, mas incluindo a Computação Quântica, Semicondutores, Biotecnologia, Energias Renováveis ou Tecnologia Mobile 5G, os 2 maiores players mundiais (EUA e China) buscam a liderança enquanto cyber potência mundial a breve prazo.

No caso chinês existem 800 milhões de utilizadores, a gerar Petabytes (1.000 Terabytes) de informação a cada momento. E o curioso é que vem reunindo as condições para almejar à liderança nesta matéria, apostando nas pessoas: em 2017, o Fórum Económico Mundial registou 4,6 milhões de novos licenciados chineses nas áreas de engenharia, ciência, tecnologia e matemática, 8 vezes mais do que ocorre nos Estados Unidos. A par disso, sabe-se que o mercado chinês cresceu 750% nos últimos 5 anos nas atividades de e-commerce, tornando-se no líder mundial.

Mas esse futuro tecnológico, ao contrário do que ocorreu no passado recente, irá tornar-se imprevisível. Se, nas décadas de 70 ou 80, o objetivo tecnológico assentava em tornar um carro mais veloz, um prédio mais alto ou um processador mais rápido, dobrando a eficácia a cada 2 anos, hoje o que marca a diferenciação não consiste em aumentar os mesmos atributos de forma proporcional, pois caso contrário já teríamos carros a andar perto da velocidade da luz e edifícios que chegariam à Lua. O progresso mudou de paradigma: da performance para a qualidade.

Por outro lado, os investimentos na tecnologia digital que nos permitem ter um acesso fácil e rápido a quase tudo, são enormes. A maioria das plataformas digitais não consegue atingir a fase de crescimento, em função da miríade de concorrentes. Mas, mesmo aqueles que conseguiram vencer a resistência do mercado, não geram receitas suficientes que permitam superar os investimentos e custos, necessários para operar de forma competitiva em qualidade de serviço e preço.

A sua sobrevivência e crescimento, está sempre dependente da capacidade de financiamento. É esta a lógica que explica o constante movimento de aquisições e fusões, que apenas vê na rotação das vendas a forma de poder chegar a lucros elevados, uma vez que a rentabilidade de vendas de muitas destas plataformas não atinge 1%. Assim, o break-even da realidade digital é distante no tempo e requer persistência, coerência na estratégia, garantia da qualidade de serviço, preços competitivos, diferenciação face à concorrência e, sobretudo, capacidade para atrair investidores.

E, ao mesmo tempo que cada empresa e start up vão percorrendo o seu caminho digital, os tubarões Google, Amazon, Facebook ou Apple vão engordando dia após dia, no domínio da informação, no conhecimento dos mercados e consumidores, enquanto alargam o seu portfólio de soluções. Estas empresas, cumulativamente, afetam diariamente a vida de cerca de 4,5 mil milhões de pessoas, num total de 7,6 mil milhões e são responsáveis pelo emprego de cerca de 800.000 colaboradores. Geram uma riqueza acumulada de 2,5 biliões de dólares e a sua capitalização bolsista supera o PIB do Reino Unido, ultrapassando o PIB da Alemanha em 2019.

Por último, um retrato sobre todos nós e a relação com o digital. O mobile chegará a todos e atualmente cobre 2/3 da população mundial, sendo que 200 milhões de utilizadores tiveram o seu primeiro telemóvel em 2017. Os viajantes no social mediajá atingem 3 mil milhões e quase todos o fazem via mobile. E o que é mais curioso é que, na maioria dos casos, todo este acesso à informação e partilha de dados ou mensagens, já é feito gratuitamente, independentemente do freio causado pelo RGPD (Regulamento de Dados sobre a Proteção de Dados).

Mais cedo do que possa parecer, todos teremos acesso gratuito e ilimitado à internet em qualquer ponto do mundo. Antever a evolução do mundo digital e empresarial a partir de 2020 é uma tarefa arriscada. Antecipar o futuro daqui a 5 ou 10 anos, é um ato de estultícia. Tal como nos orçamentos que contemplam proveitos, apenas temos uma certeza: os números estão errados!

A compreensão destas transformações ditará a adaptação das empresas novos modelos de negócio num contexto de globalização e responderão pelo seu sucesso ou fracasso.

A tecnologia caminhará no sentido de se tornar totalmente inseparável dos seus utilizadores, formatando-se, ela mesma, às suas necessidades, vícios e gostos. Deixaremos de ter que aprender com a tecnologia, pois ela encarregar-se-á de nos estudar primeiro.

Published On: Julho 25, 2018 /